O amor também mata fome

 

Certo dia encontrei Margarida sentada no passeio, com a tijela dela cheia de matortori (doce) . Eu também não havia vendido nem sequer um chocolate. Nós éramos duas pessoas doces, vendendo doces, com brilho nos olhos que simbolizava algo em comum, a fome! Com aquele calor das 13 horas daquela cidade de “MAPUTA”, até cobradores de chapas e motoristas haviam parado para almoçar. Mas eu e Margarida almoçávamos com ar, que ecoava entre a sequidão das nossas gargantas.
Mas vocês, estão a ver quando não dá vontade de falar nada? Estando diante do teu amor, lançar aquelas palavras que só os olhos sabem dizer… É assim que Margarida me olhava, ela dizia-me docemente e com revolta, “Papaito, ser pobre é uma porcaria”!

Vendedores de rua em Moçambique

Eu não podia suportar aquelas palavras de Magarida que também me passavam pela cabeça, cada vez mais eu penetrava-lhe com o meu olhar como quem quisesse dizer,”Eu te entendo Margarida, ser pobre é uma merda mesmo”.E a minha “Garida” sentada, afugentando as moscas daquele “matoritori”(doce) que nos matava de “timbilo”(desejo), e eu tirando os chocolates do sol, os “xipissi”,”maniguinaki”… íamos conversando em silêncio. Parei e olhei mais para ela, ela também parou parou e olhou mais para mim. Os meus olhos lhe disseram algo que certamente ela entendeu, confirmei isso quando “Garida” sorriu, e mais um amarelo como milho de Inharime surgiu.

“Garida, nós estamos aqui com fome do raio… mas você de tão bonita que é poderia dar uma boa prostituta, e essas não dorme de barriga vazia”

Foi o que eu disse nos olhos de “Garida”, por isso ela ofereceu-me aquele sorriso que saciava minha alma, mas o meu estômago aplaudia “grogumgum”. Caramba do gajo! Como dizia então, minha Garida me respondeu com os olhos dela:

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“Mas você Papaito sabe correr muito, mais do que aqueles burladori que ficam no mercado do estrela. Pegava uma boa blakiberi,galaguiji… e zas, ladrão quando corre muito também não dorme com fome”

Como eu poderia ficar indiferente perante palavras inaudíveis de menina Garida?Ela disse-me uma “verdade verdadeira muito realística”.

Apesar de todas essas brincadeiras nos sabíamos que era um insulto a nossa moral. E o sol ia abrandando, nossas gargantas estavam secas… Levantei-me e fui pedir agua numa casa vizinha,trouxe a Garida e ela bebeu.Em seguida aliviei a minha sede tambem. Passei minhas mãos na cara de Garida,aqueles olhos mais uma vez falaram:

“Não foi assim que fomos educados meu amor,ainda que eu passe fome e durma com peidos no estômago. As minhas pernas eu não abro para mais ninguém que não seja você.”

Fiquei “profundamente com profundidade profunda” tocado pelas palavras de Garida. O beijo que se seguiu seria perfeito se o meu dente não tivesse batido naqueles dentes amarelos dela.Mas mesmo assim foi gostoso,como “xiquento” que acaba de sair do “galango”(panela de barro).E prontos,o nosso almoço havia sido o melhor do mundo,agua e,amor!
Nos sentimos mais inspirados para encarar a fúria da injustica. Pois nos lutamos e sofremos,mas mantemos a nossa integridade pelas ruas dessa cidade.Ate a pobreza e’ boa quando se partilha.

Ajudei-lhe a levantar,olhei para ela e finalmente a minha boca falou:

-Amo-te Garida,seja forte meu amor!

Garida respondeu:

-Vá em Paz Papaito!

E la fui eu… sacio da vida,porque A lirandzo ya dlhaya Ndlhala.