Escrito por Alexandre Chaúque

Senhor Presidente, com todo o respeito que tenho por si, como Chefe de Estado, embora não simpatize muito consigo, peço-lhe encarecidamente que leia esta carta que lhe escrevo num dia em que o meu coração volta a doer.

Recentemente, Sua Excia. Esteve na minha cidade, Inhambane, onde inaugurou a estátua de Samora Machel.

Sabe, senhor Presidente, eu estava muito perto de si, e um dos seus guarda-costas chegou a perguntar-me quem era eu e eu disse-lhe que era jornalista, e depois não me ligou mais.

Tentei aproximar-me mais de si, senhor Presidente, para lhe aconselhar a devolver a sua palavra depois de descerrar a obra medíocre que nos é ali presente, mas a barreira que lhe cercava era impenetrável e eu não queria confrontar-me com a bófia.

Tentei aproximar-me de si para lhe lembrar sobre a dimensão, o porte
enérgico de Samora, uma realidade que o arquitecto escolhido para desenhar Samora não nos conseguiu trazer, nem de perto nem de longe. Samora Machel é-nos apresentado macrocéfalo, velho e doente, contrariando a sua jovialidade que sempre soube manter.

Senhor Presidente, eu, no seu lugar, demitia os assessores que tem, uma vez que lhe empurraram para o ridículo, pois, na verdade, aquela estátua é ridícula, bizarra, macrocéfala. Aquilo é um mamarracho. Samora Machel está com uma cabeça enorme, com o rosto velho e doente e um panarício, (xivessane nas língua do sul do Save), no dedo indicador direito.

As nádegas do homem de Xilembene são pequenas, num corpo também pequeno para uma cabeça enorme e feia.

Aquela estátua, senhor Presidente, repito, é um mamarracho e, se me pudesse ouvir, mandava-a remover e procurar outro arquitecto para dignificar aquele que foi ídolo do povo, embora lhe sejam conhecidas as suas incontroladas loucuras, as suas ambições e uma série de defeitos que qualquer ser humano pode ter.

Um ídolo do povo, senhor Presidente, não pode ser tratado de forma tão baixa, de forma tão insultuosa, e os seus assessores deixaram-lhe dar o beneplácito a um mamarracho.

 

A Guebuza

 

Gostaria que o senhor Presidente interrogasse aos seus assessores sobre o facto de terem implantando a estátua de Samora de costas para a cidade e com aquele aspecto ridículo. Não pode ser, senhor Presidente! Samora Machel tinha muitos samoras macheis dentro de si, como disse uma vez o ilustre Severino Nguenha, e cada um deles com uma intensa loucura.

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Samora Machel era um actor de primeira água, onde quer que ele estivesse. Samora está virado para o mar, para o local onde estava a estátua de Vasco da Gama, como se o machangana de Gaza quisesse fazer o inverso do marinheiro.
O senhor Presidente devia incorporar, na equipa dos seus assessores, um artista, um louco, para lhe ajudar na visão das coisas que têm a ver com arte. Samora Machel era um artista e o arquitecto que fez aquela estátua, não tem absolutamente nada de artista.

É um medíocre, digo medíocre porque a nossa qualidade ou inqualidade é medida pelas obras que apresentamos. Se eu fosse um dos seus assessores, senhor Presidente, teria evitado aquele acto público.

O senhor Presidente tem responsabilidades imensas, com certeza! E eu tenho o direito de lhe escrever esta carta, como cidadão, e dizer-lhe que não concordo consigo nesta sua atitude em Inhambane.

Senhor Presidente, escrevo-lhe com elevado respeito e ficaria feliz se pudesse ler esta carta e ouvir o que penso. Sua Excia tem o direito de recusar algumas coisas dos seus camaradas e companheiros de trabalho.

Também tem o dever de me ouvir, como cidadão, muito embora eu saiba que pode concordar comigo ou não.

Senhor Presidente, por favor, oiça o meu clamor, que é o clamor de muitos, do povo, e mande remover aquela estátua e outras que andam por aí, insultando Samora Machel. Ficaria muito feliz se me pudesse ouvir.

Não consegui falar consigo quando estava muito pertinho de si. Mas tenho o privilégio de ter um espaço para, através dele, estampar as minhas ideias, os meus pensamentos, os meus sentimentos, as minhas feridas, as minhas alegrias também.

Entristece-me, senhor Presidente, a sua atitude, mas quem sou eu, um simples cronista, para fazer seja o que for contra a sua palavra?

Mesmo assim obrigado por me ter ouvido, mas ficaria mais feliz ainda se o senhor Presidente pudesse voltar atrás com a decisão que tomou. E isso nunca lhe vai fazer pequeno. Antes pelo contrário!