Por esses dias ando bem inspirada para defender os fracos, ou fortes, dependendo do ponto de vista. Vou começar por fazer uma perguntinha bem básica: o que seria de  Moçambique (ou outro país qualquer) se fosse habitado apenas por doutores de diversas áreas, engenheiros, ou seja de gente de classe media-alta.

Será que encontraram a cerne da questão? Vou traduzir em outras palavras, num belo dia peguei em mim a pensar em como maltratamos (quase todos fazem isso) os trabalhadores que dão “no duro” para fazer dos patrões o que eles são. É que imaginem numa família onde a esposa e o marido trabalham, os filhos acordam de manhã vão a escola e só voltam no fim do dia. A casa no mínimo seria uma bagunça autêntica e a família uma lástima. O que tenho notado é que dificilmente se dá a devida atenção aos empregados domésticos. Quase sempre são maltratados e insultados porque foram pedir emprego e os donos da casa acham que estão a fazer um grande favor.

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A verdade é que não é bem assim. Os dois saem a ganhar. Um porque tem a casa e a família limpa e organizada e a outra parte porque tem contra-partida que é o salário. Digo mais: os patrões sempre deveriam pautar por tratar bem os seus empregados, faxineiros e por ai em diante.

É simples: se eles não tratam bem, aquele grupo pode optar por vários meios para se vingar dos maus tratos e com os “bosses” nunca estão em casa para ver o que fazer tem toda prerrogativa de fazer e desfazer à vontade. Podem, inclusive, deixar o jantar bem gostoso, enquanto “maltrataram” os alimentos e não há como provar.

Tenho acompanhado situações diversas e muitas vezes penosas que envolvem patrões e, sobretudo, empregadas domésticas. Realmente existem algumas empregadas que exageram como foi o caso de uma que transmitiu HIV/SIDA para o filho dos patrões por amamentar o menino sabendo que está doente, mas porque levava o leite dele para casa para dar o filho, pois ela não tinha condições para comprar. Ela agiu de má fé.

Sempre que ando nos transportes semi-colectivos de passageiros oiço histórias que envolvem patrões versus empregada doméstica. A mais recente que me deixou boca-aberta foi de uma empregada que conversava com a outra a lhe contar novidades, vou reproduzir na íntegra a conversa:

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“A patroa vai viajar por uma semana e eu vou ficar em casa dela e dormir na mesma cama que e com o patrão. Em casa, vou dizer ao meu marido que vou viajar com a patroa assim poderei ficar a vontade durante a semana e viver numa boa. Mas também, aquela senhora é uma cobra. Só sabe reclamar. Vou aproveitar e ficar no lugar dela e quero ver a cara dela quando ela regressar de viagem”.

Eu, pessoalmente, fiquei pasma com tamanha franqueza e “descarradisse”. Fiquei a imaginar no dia em que tiver marido e viajar em missão de serviço, deixar a minha família nas mãos da empregada. Opa, tá-se mal.

Nisto tudo, existe um senão. Caso os patrões tratem os empregados com respeito que eles merecem, ocorre uma coisa bem interessante, é simples, os empregados são os primeiros a ter vergonha de fazer qualquer coisa que seja contra os patrões por saber que estes os tratam super bem.
Por outro lado, encontramos mais grupos vulneráveis como são os casos dos comerciantes, pedreiros, pintores, electricistas, cobradores de chapa, canalizadores, “mukheristas” e por ai em diante.

Me imagino num cenário em que todos nós somos advogados, jornalistas, engenheiros, ministros, entre outros, o que seria de um país sem aquelas profissões que todos nós não queremos fazer? Todos desprezam, falam mal e olham para quem faz como se lhe faltasse alguma coisa.
São profissões de extrema importância, no entanto, nós desprezamos. Tratamos as pessoas que fazem como se fosse um favor e ainda submetemos a elas a cada tipo de horror mas porque não podem deixar de fazer porque precisam de dinheiro se submetem.

Agora, vamos tentar imaginar um cenário contrário. Há um tratamento mútuo de ambas as partes, sem insultos nem fofocas assim que o outro vira de costas, se soubéssemos agradecer pelos serviços prestados….viveríamos mais tranquilos em relação a detalhes que parecem tão pequenos e insignificantes mas que, na verdade, fazem toda diferença no nosso quotidiano.