Por Gustavo Mavie

´´A votação não pode provar o que está certo,
e o que está errado ou que é bom. Na verdade,
há grande possibilidade das pessoas votarem
naquilo que é errado, quanto mais quando é um
dado adquirido, que a maioria que vota não domina
as questões em que tem de votar´´ Sócrates, citado
por Hosho no livro Poder, política e mudança, 2012.

Os resultados das eleições autárquicas que se realizaram em Moçambique nos finais do ano passado, e que no caso de Gurué foram repetidas a 7 deste mês, acabaram revelando que afinal o MDM goza duma acentuada simpatia em muitas zonas do País e, por via disso, confirmou-se também, a meu ver, a tese de Giovani Papini, de que nós Homens somos muito atraídos pelo ignoto, isto é, pelo desconhecido.

Para que não haja quem duvide da veracidade deste axioma, dou, como exemplo, o caso daqueles homens que, mesmo tendo mulheres belíssimas, ainda assim não param de engatar outras para serem suas amantes, justamente porque são atraídos pela tal lei do ignoto. E é bom que se diga que não só os homens adoram o ignoto, como as próprias mulheres são vítimas da mesma tentação, porque querem provar outros homens. Numa palavra, eles e elas são fascinados pelo desconhecido.

Se transpormos o que acontece nos casamentos para o lado dos povos e os seus governos, verificamos quase o mesmo cenário, havendo vezes sem conta em que certos povos, se divorciam de um bom governo, para eleger um outro e muitas vezes mau ou mesmo pior que acaba atirando esses povos na pior das tragedias. Este é o que aconteceu com o povo alemão quando, em 1933, elegeu massivamente Adolfo Hitler para o liderar, mas que acabou mergulhando os seus compatriotas numa guerra mundial sem precedentes. Este foi de facto a prova mais irrefutável da veracidade desta tese de Sócrates de que a votação não pode provar o que está certo e o que não está certo ou que é bom. Infelizmente, até hoje, os alemães ainda não se desfizeram das feridas e muito menos das cicatrizes e do embaraço que esta guerra lhes causou como um povo.

Um dos exemplos que entre nós prova que nem sempre o que é apoiado pela maioria é o que convém que se faça, foi a consulta que o antigo Presidente Chissano mandou fazer um pouco antes de embarcar em negociações com a Renamo em 1990, em que a maioria de nós dissemos Não e Nunca negociar com bandidos armados, como era justamente conhecida a Renamo. Na verdade, Chissano viu nesse Não da maioria como uma posição que lhe favorecia a ele que devia aproveitá-la para pôr fim à guerra, porque estava mais do que claro, que sendo a maioria que era contra a Renamo, assim que se fizessem eleições multipartidárias, a sua Frelimo iria ganhá-las e a Renamo perderia. E assim, inteligentemente, Chissano optou por contrariar a maioria e começou com as negociações com a Renamo, designando o agora Presidente Guebuza, como chefe da equipa negocial que acabaria persuadindo a Renamo a aceitar por fim à guerra bélica, volvidos dois longos anos e meio, no que é agora prova de que negociar com a Perdiz é pior que negociar com o Diabo. Só isto mostra que o culpado no decorrente diálogo entre o governo e a Renamo é uma vez mais a Renamo, e não Pacheco ou o Governo como muitos acreditam erradamente.

Outra das provas de que nem sempre o voto é prova do que é certo ou errado, foi quando a maioria do povo zambiano descartou o partido independentista UNIP, do até hoje respeitado e venerado Pai da sua Nação, o Dr Kenneth Kaunda, e eleger no seu lugar, no meio de muita euforia, Frederick Chiluva, que nunca tinha feito nada de vulto até então, senão ter sabido vender o seu peixe aos zambianos com promessas claramente falsas, temperadas com a sua oratória ganha nas igrejas onde era também pastor. Mas assim que ascendeu ao poder, a única coisa que soube fazer com eficiência foi roubar e roubar sem parar, até que o próprio povo zambiano o destronou através do mesmo voto com que o havia catapultado para o trono.

Ainda há bem pouco tempo, vimos outras cenas vergonhosas serem protagonizadas pelo líder do MDC, Morgan Tsivangirai – que neste caso acabou inspirando o nosso Davis Simango a fundar o seu próprio MDM – a se valer do cargo de Primeiro-Ministro para somar uma legião de amantes que o foram acusando depois publicamente de as terem prometido que iria casar com elas. Mas hoje, este mesmo Tsivangirai que muitos zimbabweanos viam como o seu Messias que os salvaria de Mugabe que o viam como diabo, já o descartaram dos seus corações e mesmo os próprios membros do seu partido, já não o querem mais como seu líder.

Mas até há uns anos, e sem que tenha feito nada de vulto a não ser diabolizar Mugabe, não obstante tenha sido quem co-liderou a libertação do seu País dos racistas, Tsivangirai era venerado por muitos zimbabweanos e pelo Ocidente como o melhor político do País, como alguns encaram agora o Davis Simango do MDM, ou mesmo Dhlakama, cujo CV político espelha apenas que foi um servil General do apartheid quando este movia uma guerra sem quartel em Moçambique e Angola.

Até Salomão Moyane reconhece que a FRELIMO não merece ser descartada do poder porque está a fazer um trabalho sério

Na verdade, o que me inspirou este artigo é o facto de até o meu colega Salomão Moyane, que neste caso se notabilizou pelas suas criticas contra a Frelimo e os seus governos, dizer também que não percebe porque é que há cada vez mais moçambicanos a votarem contra a Frelimo, porque ele próprio vê que tem estado a fazer um belíssimo trabalho, que mais lhes mereceria um prémio do que uma penalização como o fizeram alguns compatriotas nestas últimas eleições autárquicas.

Numa dissertação que fez no último programa dominical de Jeremias Langa, na STV, denominado Pontos de Vista, Moyane disse ser irónico, que a maioria dos que têm votado contra a Frelimo agora, sejam os jovens a quem esta mesma Frelimo e o seu Governo têm feito tudo para resgatá-los da ignorância e de outros problemas como da pobreza, através da construção de escolas de todos os níveis e universidades em cada um e todos os cantos deste País.

À medida que fui escutando Moyane, fui lembrando que já antes desta preferência pelo MDM, mais de dois milhões dos meus compatriotas votaram a favor da Renamo nas primeiras eleições multipartidárias de 1994 e nas seguintes de 1999. No caso destas últimas, a Perdiz chegou a ter 117 deputados na AR contra 129 da Frelimo, o que a mim me espantou bastante, porque a Renamo tinha sido para mim um terrível instrumento de matança do apartheid. Curiosamente, já nas de 2004 e nas seguintes de 2009, os eleitores moçambicanos reduziram a bancada da Renamo à sua própria insignificância, tendo-se quedado em apenas 51 deputados até agora. Ora, todos estes altos-e-baixos na tendência de votar neste ou naquele partido, me parecem que confirmam esta tese socraniana de que o voto nem sempre é prova do que é certo, errado ou bom. Aliás, a agora falecida primeira-ministra britânica, Margareth Thacher, dizia que nem sempre o que tem o apoio da maioria é correcto ou certo.

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A falta de lógica e razão das opções de certos eleitores dão razão a Moyane, quando diz não perceber a logica política da maioria dos jovens, uma veza que hoje é graças ao trabalho da Frelimo que Moçambique conta hoje com mais de 17 mil escolas e 40 universidades, quando na hora da independência, só havia uma e só em Maputo. Isto é de facto de se louvar e premiar-se, porque fez-se num País que só é independente há 39 anos. Mais ainda, que saiu há apenas 21 anos duma devastadora guerra que quase não deixou nada em pé, e que era movida pelo apartheid através das mesmas pessoas que hoje estão sendo preferidas nas eleições, como é o caso do MDM, cuja liderança é na sua maioria constituída por antigos membros de cúpula da mesma Renamo que agora voltou a desenterrar o seu antigo machado de guerra, e está aí matando-nos outra vez, como o fez durante 16 anos a mando do apartheid.

Moyane foi mais longe ainda, deixando claro que não percebia como é que um Partido que conseguiu colocar Moçambique no Mapa do Desenvolvimento, está sendo agora paulatinamente preterido pelas mesmas pessoas que as libertou do colonialismo e está os tirando passo a passo da pobreza.

Para Moyane, a Frelimo e o seu Governo têm estado a ter um excelente desempenho que deveria merecer-lhe um grande prémio, tendo apontado o que chamou de comunicação ineficaz da Frelimo e do seu Governo, como sendo a principal causa desta antipatia crescente dos jovens em relação à Maçaroca. Ele vincou que a liderança da Frelimo não tem sido capaz de comunicar com eficácia e eficiência, para que se ´´faça compreender ou perceber-se que está a fazer um belo e bonito trabalho´´. Ele tem razão, porque está mais do que provado por conceituados estudiosos da comunicação, como Cristina Stuart, que hoje em dia, fazer um bom trabalho já não é suficiente, daí que é sempre imperioso que seja temerado por uma boa comunicação em que se explique o que está sendo feito e para quê estando sendo feito. Os peritos em comunicação dizem que quem só trabalha e não comunica, é como semear sem regar – as culturas estarão lá, mas estarão murchadas. Muitos jovens hoje não fazem a mínima ideia donde partimos e como partimos, e mal sabem que já estivemos num inferno.

Ele vincou que este é o calcanhar d`aquiles da Frelimo e do seu Governo, porque, segundo ele, pode se fazer um bom trabalho, mas se não se é capaz de se fazer compreender ou perceber-se junto do povo, este pode ser descaminhado pelos seus adversários.

Coincidentemente, o seu colega de programa, o Dr. Tomás Vieira Mário, secundou também Moyane, dizendo que a penalização da Frelimo nas urnas é algo paradoxal, porque de facto o que merecia é um grande prémio do povo deste País.

Eu concordo inteiramente com eles, porque de facto a Frelimo está a protagonizar o milagre de imunizar o nosso País da gravíssima crise económico-financeira que tem abalado quase todos os outros países do Mundo, incluindo quase todos os da Europa e os das Américas. Incluindo mesmo os EUA de Obama. O que prova que não estamos mal entregues como o dizem maldosamente os detractores da Frelimo, é que o nosso País é um dos 10 que que estão a registar há já mais de 10 anos consecutivos, um crescimento económico à media de 7 a 8 por cento, e que têm no topo a China.

É justamente porque o nosso País está imune da crise que sufoca os outros e os seus respectivos povos, que tem sido um dos que atrai legiões de pessoas de todos os cantos do Mundo, incluindo daqueles que até há pouco se riam da desgraça em que estávamos embrulhados pela Renamo quando se fazia de instrumento de guerra do apartheid que manteve Mandela na cadeia durante 27 anos e matou o nosso carismático presidente Samora Machel.

De facto, estes factos todos que aqui resumi, e que têm feito com que o nosso País esteja nas primeiras páginas pelas boas coisas e não más, que aqui estão acontecendo como é este desenvolvimento acelerado e as múltiplas descobertas de recursos naturais que estão fazendo com que haja muitos estrangeiros que também se interrogam porque é que há cada vez mais moçambicanos que falam tão mal da Frelimo e do seu Governo, quando estão a provar que estão levando o seu País e o seu povo à Terra Prometida.

´´Há qualquer coisa que não estou a entender, e caso esta tendência se mantiver e terminar com a remoção da Frelimo do poder, vocês moçambicanos incorrem no risco de estarem a trocar um cavalo que corre, por um que nunca sabem ao certo o que virá a ser, como o fizeram os alemães´´, assim me diria sábado ultimo, um amigo americano, de nome Peter, que o fui buscar no Aeroporto Internacional de Maputo, e que ficou tão positivamente impressionado, ao ver como o nosso Aeroporto foi modernizado, e que ficou também feliz, ao ver como a nossa Praça dos Heróis ficou bonita, após a restauração a que foi sujeita nos últimos meses.

´´Este Aeroporto só está no mesmo lugar mas já não é o mesmo, e está tão moderno que se pode já confundir com o de muitos países europeus´´, assim comentou. Ele disse que o que tem estado a ver aqui em Maputo é um grande contraste e um forte desmentido com o que tem lido nos Facebooks e alguns jornais online moçambicanos, de que em Moçambique tudo está mal.

´´Agora vejo que há muita gente de má-fé ou que age com motivação política eivada de maldade´´, disse à medida que fomos visitando a cidade de Maputo e seus arredores. ´´Nalgum momento, fico com a sensação de que é uma outra cidade e não a mesma que conheci há 20 anos quando estavam em guerra´´, disse visivelmente impressionado.

Na verdade, ouvindo o positivismo com que os estrangeiros têm falado do nosso País, cada vez mais acredito que há entre nós os que só dizem que aqui em Moçambique tudo está mal, porque não dispõem da tal capacidade de que fala Sócrates de fazer leituras correctas do que somos, ou se dispõem, são os tais de que falava o escritor Stefan Zweig, de que mesmo que saibam que tudo está bem, optam deliberadamente por dizer que nada está bem, porque, segundo ele, assim o são todos os que não gostam dos que fazem o que é bom.

Ele diz que em alguns casos, há momentos em que a consciência trai os que querem negar deliberadamente o que está bom por mera maldade ou oposição à pessoa que tenha feito esse algo bom ou correcto, e acabam reconhecendo de facto o mérito de outrem que preferiam negar por negar, sem que estejam tão conscientes de que estão a reconhecer o que não gostariam de reconhecer publicamente pelo menos. Só espero que não tenha sido o caso de Moyane ao reconhecer, finalmente e justamente, que o nosso Governo tem feito um belíssimo trabalho, e que isso só não é entendido por alguns jovens mais porque a comunicação governamental tem sido menos eficaz.