Hoje tenho mais certezas do que dúvidas e sinto-me envergonhado por saber que o mais alto magistrado do país, o senhor Presidente da República de Angola, montou uma máquina impiedosa que tudo faz para inventar, prejudicar, prender e, pouco falta, para assassinar por pensar diferente, como tem acontecido com outros angolanos.

É quase uma obsessão mental, um temor, um grande receio em relação à minha pessoa. “É William fez, é William não fez, é William comunicado, é muita oficialidade e propaganda sem necessidade, e isso porque não faço parte do grupo de corruptos e delapidadores do erário público”.

Senhor Presidente, a perseguição feita pelo regime por si capitaneado, não pauta pela lisura nem pela honradez, recorre amiúde, sem a menor sombra de escrúpulos, a métodos que frisam a ilegalidade e apenas são aceites por não haver equidade que valha em certos meios jurídicos ligados ao partido no poder e à sua pessoa, enquanto presidente de Angola, que se posiciona, apenas como sendo presidente dos angolanos do MPLA&CIA, o que resulta numa persistente mostra de senilidade, sem sentido nem juízo.

Desde calúnias de fuga ao fisco a prisões arbitrárias, passando pelo roubo de computadores do F8, comunicados despropositados e mentirosos do bureau político do MPLA/JES, mais a retirada da carteira profissional e agora a tentativa de anulação do diploma, tudo é feito para me combater e desacreditar através de métodos “pidescos” e lamacentos.

Senhor Presidente, quanto ao diploma, desde já uma prenda de Natal; ofereço-lhe o papel, porquanto o verdadeiro, alojado no meu “disco duro mental,” é marca registada que tanto atemoriza o seu regime e está livre de confisco.

Senhor Presidente, longe de qualquer petulância, só pessoas mal formadas, mesquinhas e incompetentes podem agir de forma tão saloia. Eu não me formei a cabular, nem encomendei teses de mestrado e doutoramento, logo, confio na competência jurídico-profissional, não precisando por isso de bajular nem de cartão de comité de especialidade de partido político, para trabalhar em Angola ou no mundo. Exemplos, para quê? Pode crer, o facto de o seu regime cancelar todos os meus títulos e documentos é como chover no molhado, pois numa nova Angola que havemos de ter, talvez a breve trecho, o quadro será diferente, haverá maior justiça, democracia para todos, paz verdadeira na prática e o fim da discriminação contra quem pense diferente.

Senhor Presidente, a perseguição contra mim não é mera coincidência e como tal, deveria envergonhar os seus actores, enquanto projecto demoníaco, só possível em ditaduras com dirigentes intolerantes e sem verticalidade.

Senhor Presidente, admito e aceito a fidelidade dos algozes ao seu serviço, USP/UGP, sem preguiça, os agentes do SINSE (Segurança do Estado), cumpridores cegos ou a DNIC, detentores de esquadrões da morte segundo o Supremo Tribunal Militar, cravarem o meu corpo de balas no Campo da Revolução (como fizeram ao nacionalista do MPLA, Sotto Mayor, sem ter cometido crime algum) ou na Fortaleza São Miguel (onde assassinaram Nito Alves, sem julgamento). Experiência para isso não falta do lado executor, ela está à mão de semear…

Senhor Presidente, acredite, até tinha uma certa admiração por si, como pessoa, e sentia-me confortado, talvez, ingenuamente, por o considerar a suprema instituição da isenção, democracia, imparcialidade e justiça. Enganei-me!

Senhor Presidente, a minha pessoa atemoriza-o tanto ao ponto de lhe tirar o sono? Olhe que são muitas as situações de ilegalidade contra um cidadão, demais os indícios de maldade, má-fé e discriminação. Ainda que diga o contrário é isso que acontece, a justiça está do avesso, e subvertida está a sua natureza, pois não parte do crime para o autor, mas sim do autor para o crime.

Senhor Presidente, com todas estas e outras situações, a reputação de Angola, como país soberano mas dependente do petróleo, está a arrastar-se nas ruas da amargura. Com efeito, quem pode acreditar num país ou num governo que não respeita sequer os acordos académicos? Ninguém!

Os diplomatas e empresários estrangeiros, mesmo sabendo como é fácil fazer dinheiro pelo recurso a uma certa corrupção de Estado, hesitam em investir na nossa Angola, porque o país está eivado da perfídia que reina nas relações de negócios onde a lei muda quando mais convém e transforma o que é legal em ilegal.

Senhor Presidente, os esbirros do ministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento, ao invalidar o acordo assinado entre a AWU e a UAN, bem como todos os documentos académicos que atestam a conclusão da formação graduada e pós-graduada na American World University, apenas demonstraram e puseram a nu o desnorte governativo e a sua demoníaca maneira de pensar política. Quem age de forma cega, corre o risco de tanta bestialidade, que facilmente se questiona a sua capacidade, para tão nobre empreitada.

Senhor Presidente, acredite no que lhe vou dizer: precisa urgentemente de um ministro de Ensino Superior com mais competência e visão, mas se for para premiar a incompetência, peço perdão, este serve-lhe perfeitamente, tanto mais que, tendo sido um dos governantes mais indisciplinados enquanto secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, ao ponto de não respeitar a ministra (coincidentemente, esposa do director de gabinete do presidente do MPLA), foi premiado… Ora, na realidade, quem age com irresponsabilidade, marginalizando a lei, não pode garantir um ensino superior de excelência, nem uma imagem séria do governo, ao agir por emoções partidocratas.

Senhor Presidente, nesta passada discriminatória de, recorrentemente, serem marginalizados homens competentes pela simples razão de não pensarem como os bajuladores do templo, azo é dado aos augúrios de retaliações violentas, o que muito provavelmente mais cedo ou mais tarde acabará por acontecer, se nada for feito.

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Senhor Presidente, a incoerência desta quadrilha de teólogos políticos, levou-os, pouco mais ou menos, a dar um arroto de ilegalidade que se transformou em borrada fedorenta que envergonha o nosso país pois o resultado da sua estupidez redundou na apresentação formal de uma prova límpida e indesmentível de que a anulação compulsiva da validade do diploma de Mestrado de William Tonet e suspensão da carteira de advogado, sentença lavrada pelo procurador adjunto da República, no decorrer do julgamento do “Caso Quim Ribeiro”, de quem eu era um dos advogados, não era anulação nenhuma, e que, portanto, a minha expulsão da defesa era totalmente ilegal, pois não sendo possível anular o que foi antes anulado, o meu diploma era válido nessa altura! Vergonha, perfídia, maquiavélica destilação de ódio!

E hoje, Senhor Presidente, pergunto-me como é que um ministério do Ensino Superior não tem juristas capazes de evitarem esta borrada jurídica? Felizmente esta não é a visão do verdadeiro MPLA, pese o partido ser refém de JES. O MPLA que conhecemos, no passado, tinha mais lisura, cumpria acordos, envergonhava menos os seus militantes. Goste-se ou não, a verdade é que a decisão actual desta anulação peca por defeito, pois enquanto simples decisão, não pode sem fundamentação anular vínculos anteriores. Isso é de lei, mesmo se sabendo ser este Governo avesso à lei e à própria Constituição por si próprio lavrada.

Senhor Presidente, ao caucionar toda esta perseguição, enquanto Presidente de Angola, está a permitir que se vá longe demais na maldade e no desrespeito aos angolanos de boa-fé. O senhor converte-me em seu principal inimigo, como se não tivesse mais nada com que se preocupar, a nível do país e familiar, principalmente, enquanto pai e avó.

Senhor Presidente, dedique o seu tempo, não a perseguir um cidadão, mas ao bem-estar dos angolanos, à consolidação da paz, mas na pratica diária e não no verbo inócuo. Deixe, ao menos, um legado ao país, para não ser lembrado apenas como anti-democrata, discriminador e insensível para com os que pensavam diferente de si.

Senhor Presidente, construa, nestes últimos tempos, uma imagem de verdadeiro patriota, não uma imagem próxima do imperador César, mas de Martin Luther King. Será demais? Talvez, mas ao menos tenha um sonho. Ouse, ao menos, sonhar reconciliar os angolanos, todos sem excepção, num dia em que os angolanos do MPLA, os angolanos da UNITA, os angolanos da CASA CE, os angolanos do PRS, os angolanos da FNLA, os angolanos do BD e PP, todos os angolanos possam manifestar-se livremente, sem os bastões e balas assassinas.

Senhor Presidente, sonhe afastar a política de perseguição, de humilhação de prisões injustas e de assassinatos, cometidos por quem tem a sua bênção.

Senhor Presidente, não preciso de lhe implorar nada, pela plena consciência de o próximo passo dos seus homens ser a retirada do Bilhete de Identidade, sob alegação de não ser angolano, pois não se contentam em despojar-me vingativamente de tudo. Mas desde já lhe digo, farei resistência, manifestar-me-ei contra a renovação do actual, BI por ser partidário, contém as imagens de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, sem qualquer tipo de referendo popular.

Senhor Presidente, vou confessar-lhe, não tenho ódio contra si, mas pena, por estar tão mal rodeado e desguarnecido em relação ao futuro. Mas ainda assim, tenha de mim a certeza que, não sendo possível ao seu governo retirar o meu “disco duro mental”, os meus conhecimentos jurídicos, um dia, quem sabe, numa nova Angola sem discriminação eu ainda lhe possa defendê-lo, a si e, ou, aos seus, como advogado, por lhe fugirem os que hoje tanto o bajulam e o ajudam a errar.

Senhor Presidente, a missão de um governo não pode reduzir-se a credibilizar a incompetência como norma de gestão e promotora da violência extrema, dos julgamentos forjados e dos assassinatos de inocentes, é mais que tempo de provar, nesta altura, em que o país tanto precisa de quadros qualificados, nada justifica prescindir dos angolanos competentes através do estratagema de fuzilamentos selectivos, como aconteceu com o matemático, Mfulumpinga Landu Victor ou com o jovem engenheiro de construção civil, Hilbert Ganga.

Hoje matar um ser humano é tão fácil e normal, pelo ruído (in)justificativo da corte de bajuladores do templo, que se divertem com a morte dos angolanos de “segunda categoria” (os que não são do MPLA), abrindo garrafas de champanhe, debitando argumentos esfarrapados.

Senhor Presidente, em nome de Deus, pare com a sua perseguição inútil, pois não lhe devo nada, já o inverso não é verdadeiro. Trabalhei honestamente para o seu gabinete em 1991/1992, mas o senhor não paga, nem restitui os bens perdidos, tudo para eu vegetar à fome e depois rastejar até si, para ser humilhado com migalhas, inferiores às que são deitadas aos vossos cães. Pergunte a José Leitão, Helder Vieira Dias, Fernando Garcia Miala, ao ex-ministro das Finanças, Pedro de Morais e até mesmo ao actual ministro das Finanças, numa altura em que era director nacional do Tesouro.

Finalmente, senhor Presidente, já que me retirou quase tudo, colocou a sua guarda pretoriana, os seus juízes, o seu ministério público, a sua ordem de advogados e a sua imprensa a forjar e a inventar coisas sobre mim, sem direito ao contraditório, mais nada mais lhe resta, senão, como atrás verti, retirar-me a vida, Mas ao menos, diga-me o dia e a hora, para eu poder ver de pé os meus cobardes algozes.

Chefe Indígena
William Tonet