Lembro-me que quando andava no ensino primário e secundário, era um milagre conseguir acertar algum exercício. Principalmente os de Matemática, mas voltemos, era mesmo um milagre acertar algum exercício. Encontrava-me num verdadeiro abismo da falta de entendimento/percepção das matérias, uma autentica “branca”. A minha cabeça só queria saber do Rap, a minha pessoa só pensava em Busta Rhymes e em mais ninguém. Lembro-me também que várias foram as vezes em que, cansado de levar tanta porrada do meus professores, cansado de ser cobaia para os seus aparatos de tortura, resolvi ir apresentar queixa aos meus progenitores. Qual quê? Em vão foram os meus esforços pois, a resposta que eu sempre obtive, não variava de forma e sentido.

– Pai, meu professor me bate muito, estou cansado…

– Estás cansado de quê?

– Estou cansado de levar porrada Papá, já chega!

– E porque ele te bate?

Ai eu engasgava, mas já que tinha iniciado a conversa, obrigado era a prosseguir, pois o “Madala” lá estava para da-lhe conclusão.

– Mersinho, porque ele bate em ti?

– Porque… ele bate porque…

– Estás a engasgar? Queres um copo com água?

– Não pai, não, não quero…

– Responda-me então. Porque levas tanta porrada na escola. Diga-me agora, se for por injustiça, eu próprio, amanhã mesmo, trato de ir falar com ele.

– Porque não acerto as contas, e ele diz que faço barulho…

<< Pahsh >>, uma bela de uma bofetada era-me oferecida, por vezes uma valente coronhada que me deixava mijado até aos confins das minhas cuecas. E um sermão iniciava e prosseguia…

– É isto que eu direi que ele te faça sempre que fores fazer barulho e, não resolveres os deveres de casa. Não estou a gastar dinheiro pra que depois, no final do ano, chumbes! Se quiseres dou-te já uma enxada e envio-te a Inhambane, em Maxavela, e lá serás agricultor. Estás a ouvir bem?

Recomendado para si:   Azagaia consegue fundos para operar na Índia

O que podia eu dizer, além de um breve e entrecortado “sim”? Como se não bastasse o velho tratava de ligar ao professor e sempre dizia a mesma coisa:

“Alo, aqui é o pai do Emerson Chiloveque. Tem se portado mal , nem? Ok, se fizer confusão aí, batam, eu sou o pai dele e eu é que estou a dizer, batam…”. Nada mais e nada menos que isso, era sempre a mesma coisa, dai que, até com palmatória, idêntica àquelas com que espancavam os escravos, na era colonial, nas grandes plantações de algodão… eu levei! Se não fosse por bem, iria ficar na linha, por “mal”!

No final das contas era tudo para dar-me uma boa direção, um rumo seguro.

Hoje…

Olhemos o que acontece nas escolas públicas e privadas, hoje em dia. O professor é quase ridicularizado pelos alunos pelo simples facto de, ser filho deste ou daquele… “grande senhor”, chefe de uma grande empresa e etc. E com as passagens automáticas, já nem falo, os alunos refastelam-se na sombra da bananeira e pouco se esforçam nas matérias. O mais grave, muitos deles chegam a ser protegidos pelos encarregados de educação, assim que é puxada a orelha, por estar perturbando as aulas, corre e vai queixar ao Pai poderoso, e o que este faz? Dirige-se à escola e ameaça processar ao pobre professor que, por temer pelo seu ganha pão, acaba se acobardando e assim vai a Pérola, vivendo à sombra do deixa andar. Questiono-me eu sobre estes métodos, será que nós, não estaremos parindo uma geração rebelde e pouco esforçada? E se assim for, que impacto isso terá no futuro? Porque, apesar de na minha época, o medo ter sido usado para “alinhar” as coisas, havia ordem! Algo que hoje em dia escaceia… Sinto-me triste ao admitir que futuramente, provavelmente, poderá haver troca de insultos em plena sala de aulas… infelizmente o meu instinto leva-me a essa dedução.

Tomara que esteja enganado…