Professor Carlos Nuno Castel-Branco respondeu as criticas de que tem sido algo após o exercício da liberdade de expressão e de cidadania. Eis a resposta:

Interessante. Não foi Khadafi que chamou “ratos” a todos os críticos dele, independentemente da natureza da crítica? As cartas em “resposta” a minha têm algumas características comuns.

Primeiro, deturpam os assuntos e evitam discutir o que discuti. A minha carta não era sobre raptos ou sobre guerra, era sobre governação. Falei dos raptos e da guerra, no contexto de falar do discurso político, da intolerância, das opções económicas e sociais, do tratamento dado ao pensamento independente em Moçambique, do racismo, do abandono da parte mais nobre dos ideiais socialistas e igualitários da Frelimo, etc. Portanto, limitar a critica à discussão dos raptos é evitar discutir o que eu discuti.

Segundo, todas acusam-me de estar no lado errado da guerra em Moçambique. Isto é estranho porque o PR disse que não há guerra. Então, não posso estar no lado errado de uma coisa que não existe. Além disso, numa guerra desta natureza, qual é o lado certo? Eu penso que o único lado certo é a paz, e não a guerra. Eu estou no lado da paz. A paz é mais importante do que estar certo ou errado. Se crítico o PR e o seu governo não é porque não saiba que a Renamo está armada e não devia estar, e que faz ataques e provoca mortes. Mas porque é que isto acontece 21 anos depois de termunada a guerra? Porque é que a Renamo não foi desarmada e os seus homens devidamente enquadrados na sociedade? Quando assinamos o acorso de paz, não sabíamos com quem eatavamos a assinar? Não conhecíamos a génese e o modo de vida da Renamo? Assinámos a paz porque aceitámos a reconciliação e integração da Renamo na vida normal da sociedade. Na maior parte doa casos, conseguimos isso. Mas ficou sempre o espectro da intolerância, que se agravou na época de governação de Guebuza. Todos os que não são Frelimo são tratados de maneira diferente. Os que são Renamo são tratados como inimigo. Os MDM são tratados como filho do inimigo. Como é que isto não vai atiçar ânimos, particularmente de alguém com génese belicista? Não estaremos nós a provocar a Renamo para haver uma reacção belicista que justifique a intervenção militar? Se Guebuza ama tanto a paz, porque opta peloa caminhos da guerra? Será que quer ficar na história como o homem que matou Dhlakama, acabou com a Renamo e reintroduziu o monopartidarismo? Era preferivel ficar na história como o homem que manteve a paz, acabou com as ameaças militares por via da inclusão politica, social e económica, e alimentou as esperanças de todos oa moçambicanos, não apenas da elite politica e económica. Quem governa este país é o governo. Quem é o principal responsável pela paz e guerra e segurança é o governo. Todos têm que contribuir, mas ninguém pode substituir o governo.

Terceiro, todas comparam Moçambique com os piores do Mundo no que diz respeito a crimes particulares – nos EUA também há fraude eleitoral, no México há mais raptos, em Angola os críticos são presos, no Quénia há lutas tribais. Etc. Qual é a auto estima envolvida neataa comparações? Porque não nos comparamos com a Noruega, que usa as receitas do petróleo e gas para desenvolvimento inclusivo? Ou com o Vitname, onde o crescimento económico é três vezes mais eficaz que o nosso a reduzir pobreza? Como é possivel que um cidadão moçambicano possa dizer que raptos são coisas normais. Daqui a nada pobreza, desigualdade, corrupção, empobrecimento, guerra sem sentido, engomar pessoas, crianças de rua, educação de má qualidade, transporte público em carrinha aberta, sistema se saúde letal, justiça inoperante, apropriação privada do que é público, tudo isso também vai ficar normal, aceitável, porque existe em outros países.

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Quarto, todas as cartas questionam a cidadania de quem critica – de quem esteve nas manifestações, de quem não aplaude o líder incontestável, ou a gloriosa Frelimo. Não há maior cidadania do que lutar contra a tirania. Cidadãos somos todos, não é só o que aplaude a banda que passa. Cidadãos conscientes e activos são os que lutam. E esse coisa de sempre dizer que os que pensam independentemente, os que lutam por igualdade, solidariedade, contra o racismo, os que não aceitam o que acham estar mal, etc., são agentes de dorcas externas não é boa politica. Pensem – será que vocês estão a argumentar que moçambicanos de gema não pensam, logo os que pensam não o são? Será que estão a argumentar que quem não aplaude a grande espectáculo não é moçambicano? Será que os vendedores do bazar que mandaram o Paunde ir dar uma volta não são moçambicanos? Cada vez que vocês dizem que os que se erguem são agentea externos, estão a passar um atestado de imbecilidade ao povo maravilhoso. Povo maravilhoso é o que quer uma guerra sem quartel contra a pobreza, a fome, a desigualdade, a injustiça, contra a guerra e contra a insegurança, contra os maus serviços sociais públicos, contra a má governação e contra a incontestabilidade dos queridos líderes. Esse povo maravilhoso nao quer uma nova guerra civil nem quer ficar nas estatisticas mundiais dos países com mais raptos e crimes.

Quinto, sou acusado de ter publicado a carta na imprensa e a ter circulado na net. De facto, não fiz nada disso. Fiz um post no timeline do meu facebook. Esse post circulou a uma velocidade tremenda e foi parar à imprensa. Primeiro foi o media fax e depois o canal. Vocês já se perguntaram porque foi a circulação tão rápida. Eu ponho uma dezena de posts diários no meu facebook, alguns mais interessantes que essa carta. Porque foi o seu impacto tão rápido e grande, ponto de receber destaque no notícias, público, etc? Uma faísca pode incendiar a pradaria, como dizia Mao TseTung, mas só o faz se a pradaria estiver tão seca que possa arder com facilidade. Já pensaram nisso, porque teve este post tanta circulação e impacto? Ou também foi mão externa?

Sexto, podem criticar o tom da minha carta e o estilo. Todas as criticas me ajudam a fazer melhor. Eu próprio sou acérrimo critico de mim e da minha escrita, e isso ajuda-me a melhorar. Eu próprio não gosto tanto do eatilo da minha carta. A próxima carta vai ser melhor, mas será sobre os mesmos assuntos, com a mesma paixão. Melhor significa maia poderosa.