Certa vez ofereci uma rosa a uma prostituta. Foi como penetrar com uma lanterna acesa, em uma floresta mergulhada no escuro, contando encontrar árvores com espinhos e animais ferozes, morcegos e vultos… Mas para a minha surpresa não foi o que se seguiu. A dita selva que eu imaginara, era o que havia de mais belo e encantador. Havia o cantar dos pássaros e a brisa era suave. Na verdade eram caricias daquele ambiente inspirador que me obrigava a poetisa-lo…

O rosto da prostituta reacendeu-se entre as trevas envolventes que lhe pertenciam. Vi o mármore dos seus dentes reluzirem entre os pastos de Satan. A Gata Borralheira fora transformada pela suavidade daquelas pobres pétalas… E como quem sente o cheiro puro da vida, após longos anos enjaulado na podridão dos cadáveres, sugou de todo o perfume que a rosa lhe oferecia.

 Uma rosa para Prostituta

Como cascatas com águas cristalinas que compõem melodias entre a “rudeza macia” das pedras, surgiram entre o magnífico rosto lágrimas virgens, provenientes do mistério que ela exalava. E de súbito dois braços abriram-se e, apoderaram-se do meu minúsculo corpo. Lábios carnudos beijaram-me suavemente, embalando-me na sua contra-dança  ao passo que Virgilio via caminhar as Deusas… a prostituta ia polindo a minha alma, despejando em mim toda a sua fé, beijando-me como se de um anel Papal se tratasse. E em seguida fixou em mim o seu olhar vivido, enquanto a maciez das suas mãos acariciavam o meu rosto, e disse:

– Sinto-me grata meu caro, há bom tempo que não era humana. Há muito que não vivia… sinto-me grata meu caro, sinto-me grata…

Expulsou-se de mim aos poucos e penetrou na escuridão de onde veio. Porém, uma vela estava acesa, para iluminar o seu caminho e creio que o seu brilho jamais se apagará.

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