Em uma tarde sob o sol escaldante africano, a calmaria era quebrada pela presença de um astuto babuíno, conhecido por suas travessuras e pela habilidade em tirar vantagem dos demais animais.
Certo dia, enquanto a tartaruga regressava lentamente para casa, cruzou-se com o babuíno em seu caminho.
“Saudações, velho amigo,” cumprimentou o babuíno efusivamente. “Conseguiu encontrar algo para comer hoje?”
“Não,” respondeu a tartaruga com um tom de tristeza. “Muito pouco, na verdade.”
O babuíno, mal contendo seu entusiasmo por uma ideia que lhe ocorrera, pulava de alegria. “Venha comigo, pobre e velha Tartaruga,” exclamou, “e quando chegarmos à minha morada, terei um jantar preparado para você.”
“Obrigado. Muito obrigado,” agradeceu a tartaruga, enquanto o babuíno seguia saltitante pela trilha que levava à sua casa.
A tartaruga o seguiu o mais rápido que pôde, que era, na verdade, bastante lento, especialmente na subida.
Por vezes parou para descansar, quando o terreno se tornava árduo, mas motivada pela promessa de um banquete esplêndido, continuou sua jornada.
Finalmente, chegou ao local no mato que o babuíno chamava de lar.
Lá estava ele, pulando e sorrindo para si mesmo. Ao avistar a tartaruga, exclamou: “Pelas minhas caudas! Quanto tempo você levou para chegar. Já deve ser amanhã!”
“Desculpe-me,” disse a tartaruga, um pouco ofegante após a longa viagem. “Mas certamente você teve tempo suficiente para preparar o jantar, então não reclame de mim.”
“Oh, sim, com certeza!” respondeu o babuíno, esfregando as mãos. “O jantar está pronto. Tudo que você precisa fazer é subir e pegá-lo. Olhe!” disse, apontando para o topo de uma árvore. “Três potes de cerveja de milho, especialmente preparados para você.”
A pobre tartaruga olhou para os potes, que o babuíno havia colocado nos galhos, altos demais para que pudesse alcançá-los. Ele sabia que jamais os alcançaria, e o babuíno também sabia disso.
“Traga um para mim, por favor,” implorou a tartaruga, mas o babuíno subiu na árvore num piscar de olhos e gritou: “Oh, não! Quem quiser jantar comigo deve subir para pegá-lo.”
Assim, a pobre tartaruga só pôde iniciar sua longa jornada de volta para casa com o estômago vazio, amaldiçoando sua incapacidade de escalar árvores.
Contudo, durante o caminho, ela elaborou um plano magnífico para revidar a crueldade do babuíno.
Alguns dias depois, o babuíno recebeu um convite para jantar com a tartaruga.
Surpreso, mas ciente da lentidão e bondade da tartaruga, o babuíno pensou consigo mesmo: “Ah, bem, o sujeito evidentemente entendeu a piada e não me guarda rancor. Vamos ver o que posso obter dele.”
No horário combinado, o babuíno seguiu pela trilha que levava à casa da tartaruga.
Era a estação seca, época de incêndios florestais que deixam o solo queimado e negro.
Além do rio, o babuíno encontrou uma extensa área de grama queimada e negra, pela qual saltou em direção à tartaruga, que o esperava ao lado de uma panela exalando os aromas mais saborosos. “Ah, é meu amigo, o babuíno!” disse a tartaruga. “Fico feliz em vê-lo. Mas sua mãe nunca lhe ensinou que deve lavar as mãos antes das refeições? Veja só como estão sujas! Pretas como fuligem.”
O babuíno olhou para suas mãos, realmente sujas após cruzar a área queimada.
“Agora volte ao rio e lave-se,” instruiu a tartaruga, “e quando estiver limpo, lhe darei um pouco do jantar.”
O babuíno correu pela terra queimada, lavou-se no rio, mas ao retornar à tartaruga, atravessou novamente a área queimada, chegando tão sujo quanto antes.
“Isso não pode ser! Eu disse que você só poderia jantar comigo se estivesse limpo. Volte e lave-se novamente! E seja rápido, pois já comecei a comer,” disse a tartaruga, com a boca cheia de comida.
O babuíno foi e voltou várias vezes ao rio, mas, por mais que tentasse, suas mãos e pés ficavam pretos a cada retorno, e a tartaruga recusava-se a dar-lhe qualquer parte da deliciosa comida que rapidamente desaparecia.
Quando a tartaruga engoliu o último pedaço, o babuíno percebeu que havia sido enganado. Com um grito de raiva, cruzou pela última vez a terra queimada e correu para casa.
“Isso lhe ensinará uma lição, meu amigo,” disse a tartaruga, sorrindo, enquanto, satisfeita e bem alimentada, recolhia-se em seu casco para uma longa noite de sono.
Este conto, emanando do rico acervo cultural do povo San, não apenas diverte, mas também ilustra a astúcia e a sabedoria que podem superar a malícia e a prepotência. A história da tartaruga e do babuíno nos ensina sobre a importância da astúcia e da paciência diante da adversidade, bem como o valor da justiça e do equilíbrio nas relações, fundamentos essenciais nas narrativas tradicionais africanas e pilares na construção das sociedades ao longo das gerações.