A Moda em Moçambique

 

Moda em Moçambique, assunto muito delicado! Se  fossemos um povo que não sofre  influência de países do ocidente … teria sido muito mais fácil escrever este artigo. Mas a realidade é outra, há bom tempo que somos um barco à vela! Mas nem por isso, não nos vendemos por completo, ainda há gente interessada em guardar os nossos bons costumes. Por isso, os nossos trajes tradicionais ainda vivem.Tomara que assim seja até sempre!

 

Decidi escrever este texto por ordem cronológica  desde  o tempo em que os nossos Pais, avós, ”bizas”… desfilavam entre as “passarelas” da Pérola. Mais concretamente entre a década 70 a 90, até hoje, em que a China, Brasil, Nigéria, EUA… determinam o nível de swagger (eles dizem que quer dizer estilo) entre as ruas.

 

Como vestir em Moçambique

 

A Moda Em Moçambique Ontem

 

Devido à sua localização geográfica  Moçambique, muito cedo tornou-se  alvo de “olhares comerciais” . Comerciantes Indianos , Europeus … deslocavam-se  as  grandes povoações para comercializarem os seus produtos trazidos de terras distantes,em troca do que havia em abundância na nossa pátria .

Missangas, tecidos … eram trocados por produtos locais. De certa forma isso foi determinante na modificação e solidificação dos costumes do nosso povo, novas tendências da moda, sobretudo na região norte do pais, lugar onde o povo sofreu grande influência da cultura indiana!  Até hoje, o nosso povo do norte  mantêm um estilo de vida  característico do povo Muçulmano. O xaile é bastante idolatrado, cofiós, túnicas … são todos fruto de influência  Indiana, que tatuaram-se com o andar do tempo, e passaram a fazer parte da nossa cultura! Quanto ao centro e sul do pais, houve  também modificações, a moda seguiu novas tendências!

 

Surgiram as calças “boca de sino”, feitas de pano (hoje em dia txuna baby), as balalaicas, ”max e mid” (vestidos curtos e compridos, com bolinhas, que eram usados com tamancos) , “não me engoma” (vestidos feitos de tecido amarrotado), ”Ntoveque” ( tecido leve, com que as esposas dos madjon-djones/mineiros, faziam vestidos de nome Plissado) e outras tantas  peças que desfilavam entre as ruas. Nesses pontos do país, houve mais influência europeia. As capulanas eram usadas para fazer vestidos, blusas, calças, lenços… imitando modelos europeus. Havia também bolsas de palha ( Xcupas), brincos, fios e mascotes feitos de missangas e conchas da praia. Inventaram-se os chinelos e sandálias que eram feitas de pneu (Mabor) e napa.

 

Mas alguns estilos/modelos, foram desaparecendo com tempo, o povo foi ganhando novos gostos, e, ”esquecendo” o que durante duas décadas os embelezou.

 

 

A Moda em Moçambique Hoje

 

Como eu havia dito no início do texto, somos um barco à vela. Facilmente nos deixamos influenciar, por isso fica difícil falar sobre a moda em Moçambique.  Notem só que na maioria das vezes, as tele-novelas brasileiras, vídeos clips Americanos…  determinam o que se veste pelas ruas da Pérola! Duvidam? Se não vejamos:

Lembram-se da Tele-novela “O CLONE”? Com certeza que sim, foi um sucesso em Moçambique! Jovens deixaram-se levar na“ dança da Jade”… Começamos a ver (em abundância), xailes, bijuterias … e todo o tipo de vestuário existente na novela! A capulana passou a ser mais estranha, que os tecidos do “TIO ALLEN”. Mas, felizmente, a “CLONE-MANIA” veio, e se foi (tomara que não volte)! E tantos outros casos que não me vêm à memória.

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O que quero dizer é que, os Moçambicanos são bastante influenciados pelo Brasil e EUA na sua forma de vestir. Tudo aquilo que estiver no auge da moda Ocidental…  é imediatamente copiado pelos Moçambicanos. São importadas quantidades extravagantes de peças de roupa, calçado… que são logo esgotados pelos Moçambicanos. Enfim, efeitos da globalização! Nas cidades Moçambicanas, é mais comum ver homens e mulheres vestidos com trajes ocidentais, que  cruzar-se com os mesmos, vestidos com peças feitas de capulana! Raramente vão para lugares requintados com a capulana vestida. A capulana é usada dentro de casa, nos lobolos, casamentos e cerimónias fúnebres. Há dias atrás conversava com uma amiga residente na cidade de Maputo, que dizia-me o seguinte:

 

 “Saí de casa de capulana amarrada, uma blusa simples e lenço de capulana na cabeça, e as pessoas olhavam-me com espanto, como se eu fosse um extra terrestre”.

 

Pois é, é a nossa realidade! E infelizmente trajes tradicionais passaram a ser estranhos no nosso meio, dá-se mais valor às  txuna baby, que a nossa capulana, pastas e chapéus de palha entre outras peças tradicionais. Certamente que há ocasiões que exigem que nos apresentemos de um certo modo, mas creio que não deveríamos nos espantar quando cruzamos com uma/um  bela/o  jovem vestida/o com trajes tradicionais. Mas não digo que seja tudo farinha do mesmo saco, está havendo uma modernização da nossa moda! Tenho visto belas peças produzidas através da Capulana, bijuterias  , chinelos, bolsas, carteiras … peças produzidas em Moçambique, e por estilistas Moçambicanos. Isso vai ajudar na preservação e valorização da nossa cultura.

 

 

Sobre a capulana

 

capulana é um símbolo Moçambicano. Possui nomes diversos, que são atribuídos de acordo com o quotidiano do povo, e pelo próprio povo! Embora algumas vezes sejam  usadas para  fazer publicidade, o que faz com que ganhem “alcunhas”. Pois é normal vermos capulanas com imagens estampadas nelas, como o mapa de Moçambique, o rosto da Josina Machel, Estádio do Zimpeto, Papa João Paulo II, A.E.Guebuza…  e Mc Roger! Porem, todas elas têm nomes tradicionais e estilos diferentes, as imagens lá inseridas são apenas para publicitar um determinado evento, ou figura pública.

 

Ntehe-Nome tradicional da capulana que é usada para proteger o bebé nas costas. Arrisco-me a dizer que 100% dos Moçambicanos já sentiu a doçura de ser nenecado/belecado, acompanhado pelas carícias de uma Ntehe!Moda em Moçambique

 

Mocume – conjunto de capulanas unidas por uma renda no meio. São usadas como lençóis, e no  caso de mulheres com corpos volumosos. É indispensável na lista do lobolo, significa a união do casal.

 

Deixo aqui abaixo, alguns nomes tradicionais das nossas capulanas:

 

Xifukuana, Chivite cha va loi, Ximunyunyana, Xa ropoiana, Xi pehuza, Mafalala, Xi kala Vito, Xi bedjana, Xi Tlango, U zivize, Xi Lassuana, Xi Gutsa xa Utome, Xi bedjana … e muitos outros nomes!

 

Este é o meu nobre olhar sobre a moda em Moçambique, espero que os nossos estilistas, Marunganas (alfaiates) continuem modernizando os trajes feitos através da capulana, para que haja mais Moçambicanização da nossa indumentária  Já estamos demasiadamente corrompidos, mas ainda vamos a tempo de resgatar certos valores  que vêm se perdendo  gradualmente.

 

 

7 COMENTÁRIOS

  1. Prezado Emerson. Nesse momento escrevo do Brasil; o país com maior população de negros e de afrodescendentes; fora do continente africano. Primeiramente quero parabenizá-lo pelo artigo aqui publicado; fazendo uma ressalva para a introdução, onde há um comentário sobre superposições culturais, à partir de modelos ocidentais. Acredite. Quase tudo que o mundo ocidental produziu, em termos, e motivos de beleza estética; foi inspirado nas cores, e nos temas africanos relacionados com o belo. Incentive esse Povo Lindo de Moçambique e de toda a África, a se enxergar de um modo verdadeiro.

  2. Faltaram as garafas, as roupas coloridas dos jerkistas, as sainhas, as cai-cais e ainda os macacões das minas da África do Sul hehehe…

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