IDEOFONE

Também

a minha pátria é a língua

MAS a que se expresse

nas coisas mais lindas

de dizer o alfacto

as sensibilidades da vida

o cemitério do nosso imaginário

sem queimar os sintomas do aroma

em que o exímio lexema nos mescla:

khigaá!

 

Pedofilia

Prefiro laranjal de gumes secos

uma vida de orvalho a pino da idade

a um cardume de erva vinagreira

com chambre deveras franzina

ela definha-se quando é para baixo

o prazer que se estreia

como cães em procissão

só uma louquinha de fundo

para se deixar perdidinha

nos escombros do avesso.

 

TESTE

Homem

moribundo

de pasmo

olhar côncavo

o pranto.

 

LIBERDADE

Com o silêncio das mãos

À medida da cabeça fiz

Lá dos meus pés:

Gris enleio ao longe

A primavera do céu

De baixo, nem legível é.

 

PRIMAVERA

Meu, corre o rio

Feroz nas pálpebras do leito

Com diligência a arte

O simi-sémen dos cinco desejos.

 

MÉTRICA

Querem árvores mesmos como

Uma calha sob a qual nos devamos

Prostrar em reverência.

Mas comem-se as mesmas tangerinas?…

Mesmo quando não tinha pálpebra!

E hoje não seria diferente

Porque nem retina hei, até.

Também nada a ver ainda

O mundo não há mais a revelar:

Exprimiram-no com fome dos loucos.

A palavra está seca que nem imagem borrifa

No mínimo esforço da tela.

 

 

Se ao menos as mulheres amassem

As camisinhas dos filhos que evitariam,

O prazer não lhes rompia as coxas

De dor que rala os cabelos ralos

Com uma dieta secular a enxovalhar

O Homem de gelo plácido na configuração

Em que o fio que o comprime é estandarte.

Nem a espécie subalterna!

Recomendado para si:   O Fim da Modja (e dos Modjeiros)

 

Às vezes, a loucura come-me

com veemência

para que de avesso não baloice

à berma do poema.

 

ABUNDÂCIA

Há uma grande raiz

no meu país:

insuficiência.

 

Ideia.

 

AMANTISMO

Saia pura e desusada

Que virgem lhes restas

Sou só lúgubre e não abstento

Porque não vos comi à poesia

Nem ruas, tuas, imperecíveis bosques

À minha combustão indistinta vos queimou.

Nem com pua o T que se solveu

Deixam o P e ua beijo

Nos alvéolos do medo.

Fazem-me. Fazem-me indébito

Os meus amores!…

Não têm da minha caverna a ciência.