Era uma vez, numa pequena aldeia envolvida pelas vastas e vibrantes terras da África, vivia uma mulher abnegada que desempenhava os papéis de pai e mãe para suas duas queridas filhas, Kissanga e Binga. Esta mãe, uma verdadeira matriarca, enfrentava diariamente os desafios impostos pela vida rural, onde a única forma de sustento vinha do árduo trabalho nas lavras.

Neste mesmo cenário, emergiam figuras temidas conhecidas como “Maquícis” — seres de proporções gigantescas, dotados de um apetite canibal, conforme narrado pela rica tapeçaria do folclore local, expresso na língua Kimbundo. Esses seres notórios eram conhecidos por aterrorizar os habitantes, capturando-os inesperadamente.

Num dia fatídico, enquanto a mãe se aventurava em mais um dia de trabalho na lavra, buscando prover o necessário para suas filhas, ela encontrou-se nas garras desses seres aterradores, sendo arrastada para o desconhecido com intenções sombrias.

Percebendo a ausência prolongada de sua mãe, Kissanga e Binga, movidas por um misto de preocupação e coragem inabalável, decidiram trilhar o mesmo caminho em busca de sua protetora. No decorrer de sua jornada, cruzaram com diversos moradores da aldeia, mas nenhum soube dar notícias de seu paradeiro. A ansiedade das jovens intensificava-se, levando-as a buscar respostas até mesmo entre os animais da região.

Foi então que uma pomba, símbolo universal de paz e esperança, lhes revelou o destino de sua mãe. Com um espírito altruísta, a ave comprometeu-se a auxiliar na salvação da matriarca. Graças à intervenção desse mensageiro alado, a mãe foi resgatada e pôde retornar ao aconchego de seu lar, junto às suas filhas. A partir desse momento, a alegria e a gratidão preencheram seus corações, selando um final feliz para essa família resiliente.

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Análise no Contexto Africano

Este conto, rico em elementos da tradição oral africana, reflete não apenas a estrutura familiar matriarcal comum em muitas comunidades africanas, mas também a profunda conexão entre os seres humanos e a natureza, uma característica intrínseca às culturas indígenas do continente. A presença dos “Maquícis” simboliza os desafios e perigos que permeiam o cotidiano das comunidades rurais africanas, enquanto a figura da pomba atuando como salvadora evidencia a crença na intervenção divina e na solidariedade entre as criaturas da Terra.

Além disso, a história destaca a importância da coragem, da união familiar e da esperança frente às adversidades. O envolvimento dos animais na trama reforça o entendimento de que a vida humana está intrinsecamente ligada ao mundo natural, e que ambos devem coexistir em harmonia.

Assim, este conto não apenas entretém, mas também ensina. Ele serve como um lembrete do poder da resiliência humana, da força das relações maternais e da crença na bondade inerente ao mundo, valores profundamente enraizados nas culturas africanas.