Eu Carrego o Futuro de Moçambique

É o primeiro dia de aulas, é o primeiro dia do resto da minha vida estudantil. Sinto um ligeiro frio na barriga, porem, uma certa ansiedade. Vou mergulhar-me em um mundo desconhecido, que a minha mão paternal julga ser o melhor para mim. Por isso vou andar sem medo, aprender, descobrir-me, e ser alguém! Ainda que não seja dado o devido valor. Sim, já vi irmãos meus sentados em terra nua, molhados pelo orvalho, em busca da ciência. Irmãos que vêm a escola como um ponto de salvação, a saída da pobreza abissal. São irmãos que são crianças e adultos ao mesmo tempo. Aqueles meus irmãos, não têm dinheiro do lanche como eu terei, aqueles meus irmãos, não têm uma carteira, e nem sequer um uniforme escolar. Os sagrados trapos que os cobrem são o seu uniforme, sim, a pobreza é o uniforme daquelas almas com sonhos ricos. E mesmo assim, não desistem, lutam pelo conhecimento, aprendem a usar a sua sapiência!

É o primeiro dia de aulas, deverei ter medo? Medo de quê? Carrego comigo os livros que contêm as primeiras palavras com que este mundo me presenteia. Farei deles os meus fieis companheiros, para a vida inteira! Se um dia eu tiver que abandonar a Pérola, para deslocar-me a terras distantes em busca de conhecimento, não vacilarei, ainda que eu passe por tormentos, humilhações… pois o estudante bolseiro Moçambicano é a anedota dos demais… suas lutas diárias são dignas de riso, e respeito! Mas não temerei, lutarei para sair de lá com o meu diploma e voltar à pátria amada, tentar mudar a situação que tão bem conhecerei. Não mais suportarei as pedras engolidas de cada vez que, vejo um irmão uniformizado pela pobreza, sentado no chão, apoiando a ciência em seus pés…e na hora do lanche, engolindo a esperança de dias melhores. Basta, alguém tem de limpar a sujeira que vai pela casa. Como é que pode ser preservada a chama da unidade de um pais que mutila a esperança? Como? Basta, alguém tem de limpar a sujeira que vai pela casa! Então não temerei entrar no desconhecido, transformarei o meu medo em revolta, e um dia derrubarei o desleixo que nos guia… os meus irmãos, não mais serão uniformizados pela pobreza, não mais engolirão o lanche invisível da esperança, não mais apoiarão a ciência em seus pés. Não desistirei até que veja esta reflexão materializada. Sinto que não sou a única com esta visão, há mais corações pulsando ao mesmo ritmo que o meu, e a cada passo que estas almas dão em direção ao desconhecido, brotam sonhos, brota revolta, pois o povo partilha do mesmo descontentamento, e eu não sou excepção! Um dia o sol ira brilhar…

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Emerson David de A. Chiloveque, 24 anos de idade, nacionalidade moçambicana. Estuda Relações Internacionais e História, em Tula, Rússia. Assumiu-se escritor amador há 2 anos. Chil escreve contos, crónicas e artigos para jornais e blogs. Enamorado pela arte, Chil encontrou na escrita a paz que precisa para contribuir para o desenvolvimento e enriquecimento cultural da humanidade.