Dentro do vasto mosaico de mitologias africanas, o mito da criação etíope se destaca por sua singular narrativa sobre as origens do mundo e da humanidade, guiada pela divindade criadora Wak. Este mito, originário da Etiópia, revela profundas reflexões sobre a vida, a criação e a transformação.

No princípio, Wak, o deus criador, habitava as nuvens. Ele mantinha o firmamento, um vasto céu estrelado, distante da Terra, que era uma superfície plana e sem características distintas. Wak era visto como um benfeitor, um deus que não castigava, mas guiava a criação com benevolência.

Diante de uma Terra sem relevo ou características, Wak incumbiu o homem de construir seu próprio caixão. Quando o homem obedeceu, Wak selou-o dentro do caixão e o enterrou no solo. Durante sete anos, Wak fez chover fogo do céu, processo do qual emergiram as montanhas e o relevo terrestre.

Após esse período, Wak desenterrou o caixão, e o homem emergiu, revigorado e vivo. Contudo, o homem logo se viu solitário na vastidão da Terra. Atendendo a seu anseio por companhia, Wak utilizou um pouco de seu sangue para criar uma mulher. Após quatro dias, o sangue transformou-se na companheira do homem, com quem ele se casou.

Dessa união nasceram trinta filhos, um número que envergonhava o homem a ponto de ele decidir esconder quinze deles. Wak, ao descobrir o ato do homem, transformou os filhos ocultos em animais e demônios, diversificando assim as formas de vida na Terra.

Análise no Contexto Africano

O mito da criação etíope aborda temas universais como solidão, criação, vergonha e transformação, inserindo-os em um contexto cultural específico que reflete a cosmovisão e os valores etíopes. A intervenção divina de Wak na formação da Terra e na origem da humanidade e dos seres vivos demonstra uma conexão intrínseca entre o céu e a Terra, destacando a dependência da humanidade em relação ao divino.

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A transformação dos filhos escondidos em animais e demônios simboliza a origem da diversidade de seres no mundo, bem como a complexidade das relações humanas com o mundo natural e o sobrenatural. Essa narrativa sugere uma explicação mitológica para a existência de diferentes formas de vida e a presença do bem e do mal, refletindo sobre a natureza dual da existência.

Este mito não apenas fornece uma janela para o entendimento das crenças e tradições etíopes, mas também contribui para o rico tapeçário da mitologia africana, que busca explicar o mundo e a condição humana através de histórias repletas de simbolismo e ensinamentos morais. Através de suas narrativas, os povos africanos compartilham uma sabedoria ancestral que continua a moldar suas identidades culturais e espirituais.