Por Fernanda Angius

Pedro Pereira Lopes [PPL] é um escritor cujo talento promete enriquecer a nova literatura moçambicana. Articulista e intervencionista como cidadão, poeta, contador de histórias infanto-juvenis, PPL inventa borboletas, estrelas e cantares onde todas as coisas fazem falta e a poesia pode ser a ponte para a diferença.

A colectânea “o mundo que iremos gaguejar de cor” surpreende pelo talento e pelo realismo nimbado de sonho que sempre se exala de cada conto, por mais dura que seja a situação descrita ou encenada. Nalgumas das narrativas, o efeito cinemático e o espessar dramático conseguem tocar bem fundo na alma do leitor mais distraído, tal a veracidade com que a acção se desenrola.

Nestes primeiros contos destinados aos adultos que PPL traz à estampa (pela novíssima mas ousada Cavalo do Mar Edições), há como que a catarse necessária para um jovem que nasceu num país já livre do jugo colonial mas sob a ameaça viva e quotidiana de uma guerra civil que ninguém entendia nem justificava, mas que, inexoravelmente, condenou a memória das duas gerações de jovens, que hoje são o fermento do povo vivo que está a construir o país em que querem ver crescer seus filhos já libertos dos fantasmas dessa guerra que habita os contos deste livro.

Os contos trazem também um perfume de esperança, uma corajosa denúncia desprovida de raiva. Nestas narrativas a vida já se promete em futuro. Embora bem sedimentadas na realidade actual moçambicana, estas estórias vivem de uma ética e de uma moral que é universal e tende a colocar este livro entre um primeiro de uma longa série da nova literatura moçambicana.

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