Texto de FS[i]

Tradução e interpretação de Pedro Pereira Lopes

Não se trata de escrever, não se trata de ler ou de uma filtração intelectualizada de pensamento, experiências, sonhos, sessões de terapia, estúpidos comportamentos e dramas da vida real. A arte das palavras; o interior do escritor que é escrito, desenhado, exposto.

De imagens cifradas em cavernas e pirâmides para letras em um quadro ou uma página ou tela, os humanos trabalham suas múltiplas mágicas para contar uma história.

Escritores escrevem.

As palavras são a pintura, as escovas, as ferramentas, as mesas, as cadeiras, o chão, o sofá, a banheira, a argila, a cola. Escrever é um acto de reunir – juntar o quê? Palavras? Sentimentos? Recordações? Imaginação? Nuvens? Todas as coisas, histórias, maravilhas, perguntas dolorosas, respostas, medos que vivem dentro do escritor, respirados para a vida pelo escritor através do uso de palavras? É essa a reunião? É boa? Alguém já leu? Quem se importa?

Ninguém realmente fala sobre isso, mas há uma estrutura de classe para escrever. As pessoas podem debater entre si quanto à estrutura: qual é tipo de escrita que está na superfície, que tipo de escrita está no fundo, mas existe uma estrutura de classe que vai da literatura ao jornalismo. A escrita acadêmica tem a sua própria classe e seria negligente não mencionar a classe de bons fundamentos de escrita – edição, revisão e gramática. Há também a escrita experimental, que não presta atenção às convenções de escrita. É tudo escrito, e existe uma hierarquia.

O acto físico de escrita toca uma parte da mente que é desafiada a se expressar em voz alta nas palavras faladas. Às vezes, o escritor fica fora do caminho e algo mágico acontece. As histórias aparecem. O que está escrito escreve-se por si mesmo, mostra-se, se expõe. O escritor apenas transcreve.

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Às vezes, isso acontece quando a mente está aberta e pronta e vazia de sua plenitude. Estes são os tempos de escuta, de deixar que seja escrito, não de escrever.

[i] FS (28.07.2011), “Sometimes, it’s not about writing”, diponível em: https://fso2.wordpress.com/2011/07/28/sometimes-its-not-about-writing/. Último acesso em 6 de Agosto de 2017.

Pedro Pereira Lopes é escritor, docente universitário e pesquisador. Fez rádio, música e criou os blogs "Kumbukilah" (2009), "cadernos de haidian" (2012), "Entre Aspas Escritor (2013), entre outros. Editou a web-revista de literatura jovem “Lidilisha” e assina a coluna "Vão homens ao meu lado distraídos", no jornal "Debate". Tem formação superior em Administração e Políticas Públicas.