Chamo-me Dulce, tenho 13 anos de idade e quero ser escritora. Ainda sou pequena e vítima do albinismo, mas quero vos contar a minha história de vida.

Sofro preconceito desde que nasci: Após o meu nascimento, o meu pai ordenou que minha mãe me jogasse no lixo, e dissesse a família, que eu havia perdido a vida vítima de pneumonia. A minha mãe Teresa se recusou, e por conta disso, o meu pai abandonou a ela.

Eu e a minha mãe vivíamos juntas, na casa que era do meu avô, em T3. Não tínhamos boas condições financeiras, pois, a minha mamã era empregada doméstica. E mesmo nessas condições sobrevivíamos.

Quando ainda era pequena, não podia brincar com nenhuma criança, pois as suas mães proibiam, logo sempre brincava sozinha. Quando entrei na escola primária, o preconceito aumentou, os meus colegas, inclusive os professores, me tratavam com bastante frieza e sempre me chamava de “xidjana aguada”. Sempre contava a minha mamã o que passava na escola e até pensei em abandonar as aulas, mas a minha mãe sempre me dava forças, insistia diariamente e dizia “filha, és especial, não liga para o que os outros dizem, apenas siga em frente sem magoar a ninguém”. Com o tempo me acostumei com a situação e quase que já nem doía passar por isso.

Quando entrei na escola secundária, a minha vida mudou completamente. O preconceito diminuiu bastante, e até tive chance de ter muitos amigos.

E na tarde de terça-feira, depois do teste do Matemática, eu e as minhas amigas caminhávamos tranquilamente pra casa, quando um mini bus com vidros fumados, chegou de repente a alta velocidade, de lá saíram dois homens fortes e imediatamente meteram-me no carro.

Dentro do carro, desespero tomou conta de mim, chorei tanto, mas tanto que acabei desmaiado. Acordei num cativeiro, amarrada em uma cadeira. Pedi aos homens que não me fizessem nenhum mal, que jamais diria a alguém sobre o sequestro. Eles apenas riam da minha cara, e diziam “menina você é o nosso dinheiro, a nossa riqueza xuxuzinha“. Fiquei nervosa, chorei, rezei e entrei em desespero novamente – E nesse preciso momento senti algo batendo em minha cabeça e desmaiei.

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Não sei o que aconteceu depois, mas quando acordei, eu vi a minha mamã ao lado, eu estava numa cama do hospital, com muitas dores. Já não tinha mais o meu braço. Mas graças a Deus havia sobrevivido mais uma vez. Eu e a minha mamã estávamos juntas novamente.

Por vezes nos preocupamos com coisas banais e inúteis, e esquecemos que tem gente lutando todo santo dia para sobreviver. Mesmo que tirem o meu outro braço, ou mesmo as pernas, ainda terei forças pra lutar, pois tenho do meu lado alguém que me ama de verdade, a minha mamã.

Nós precisamos de apoio e protecção nas nossas famílias. Se já passamos por tanta coisa difícil, então somos capazes de enfrentar problemas piores.

Espero que a minha história de vida sirva de base para os que são vítimas do preconceito.

Abraços da flor que nunca murcha: Dulce