Em um ano de escassez alimentar, o Cágado utilizou suas economias para adquirir um saco de milho em Nanhagaia. No trajeto de volta, deparou-se com um tronco obstruindo o caminho. Incapaz de ultrapassá-lo, lançou o saco para o outro lado e contornou o obstáculo. Durante o desvio, escutou exclamações de alegria:
— Alegria! Encontrei um saco de milho que veio dos céus.
Era o Lagarto, reivindicando posse do saco lançado pelo Cágado.
O Cágado argumentou:
— Esse saco me pertence. Acabei de comprá-lo e estava levando para casa.
Contudo, o Lagarto ignorou os protestos e levou o milho para sua morada, alegando:
— Não roubei de ninguém. Encontrei e por isso vou consumi-lo.
Frustrado e incapaz de recuperar sua propriedade, o Cágado e seus filhos saíram em busca de alimento no dia seguinte. Nessa busca, avistaram o rabo do Lagarto para fora de um buraco. O Cágado agarrou o rabo, cortou-o e preparou uma refeição para si e seus filhos.
Quando o Lagarto finalmente saiu do buraco, correu para queixar-se ao líder da aldeia:
— O Cágado amputou meu rabo. Exijo uma explicação por seu ato.
O líder chamou o Cágado, que astutamente respondeu:
— De fato, encontrei um rabo ao lado de um buraco e decidi levá-lo para alimentar minha família. Não sabia que pertencia a alguém.
— Aquele rabo era meu! Deve me compensar — insistiu o Lagarto.
O Cágado replicou:
— Não vejo razão para compensação. Agi como você agiu comigo. Ontem, você se apropriou do meu milho, e hoje, eu fiz o mesmo com seu rabo. Estamos quites.
O líder, ponderando a situação, concordou com a lógica do Cágado e os dispensou, resolvendo assim o impasse.