A história que vou contar hoje é baseada em factos reais. Na verdade mostra os antecedentes e o desfecho de uma notícia que passou nos noticiários nacionais. Para tornar a história o mais compreensível possível, eu alterei o enredo, mudei factos, inventei nomes e criei minha própria versão. Você vai notar que em alguns casos eu interrompo a narrativa para falar directamente com as personagens e consigo, não se espante, esse é meu estilo.

Ivan e Marcos eram grandes amigos desde época em que A Politécnica era ISPU, foram bons colegas e se tornaram melhores amigos.

Ivan era um jovem promissor, com um futuro brilhante, cheio de sonhos e ambições. Era de uma boa família, tinha um bom emprego, amigos e uma namorada que ele tinha certeza que seria a mãe de seus filhos.

Marcos tinha muito para dar, todos esperavam grandes coisas deste rapaz. Ninguém duvidava que um dia ele estaria sentado ao lado do seu amigo no topo do mundo.

A Sofia era uma rapariga muito bonita e meiga. Essas e muitas outras características (que desconheço) conquistaram o coração do Ivan. Seu amor por essa mulher era platónico. Coisas como essa são raras nos dias de hoje.

Ivan viveu um dos melhores dias da sua vida, quando a Sofia lhe contou que estava grávida, que ele seria pai. Finalmente o Jovem Ivan realizaria o sonho da maioria dos homens decentes – Ter uma família com a mulher que ama. Ele não conseguia conter sua alegria. Pela primeira vez ele sentira aquela sensação que só quem já esteve na mesma situação que ele conhece.

Ele passou o resto do dia comemorando com seu melhor amigo Marcos que parecia estar mais feliz que o próprio pai do rapaz – se eu não soubesse de nada eu acharia que ele é que seria pai. Os dois faziam planos. Marcos declarou que seria padrinho da criança para ensina-la as coisas boas da vida. Ele sugeriu um nome que o amigo aceitou depois de horas e horas rejeitando outros nomes.

Naquela noite Ivan dormiu como uma adolescente apaixonada. Só pensava do seu pupilo e no futuro que teria com sua futura esposa.

Alguns dias depois daquela confusão toda, a senhora Verónica conseguiu finalmente voltar ao ritmo normal de trabalho, afinal de contas uma parte do país estava paralisada enquanto ela resolvia esse “problema” do filho. Todos sabiam que no fundo ela estava feliz com a notícia de que seria avó.

Ivan acordou cedo naquele dia e mal falava, esta com um aspecto extremamente sisudo, parecia estar a preparar-se para ir a guerra que decidiria o destino da humanidade. Ele vestiu como quem iria ao serviço, parecia estar muito nervoso, estava agitado. Dava a impressão de que o Ivan que conhecíamos ainda estivesse a dormir e que um espírito sinistro movesse o corpo do rapaz. Ele nem lembrou-se da mandar a mensagem de bom dia à Sofia e nem deu um “comé” ao melhor amigo. Saiu de casa e para trás só deixou poeira.

A senhora Verónica é uma personalidade muito importante na cidade, ela estava bastante atarefada quando foi interrompida pela toque do celular. Era seu filho Ivan ligando.
Ela pegou no telefone, com o rosto ríspido ela atendeu para saber porque o filho ligava para ela no meio do trabalho:

– Aló!


– Aló mãe. Eu vou me matar.

Esse não é o tipo de brincadeira que um filho pode fazer com uma mãe. E também não era do feitio do Ivan fazer esse tipo de coisa. Quando ouvimos uma coisa dessas temos sempre a esperança de termos ouvido mal e que em alguns segundos estaremos rindo da nossa própria cabeça, que fica ouvindo coisas e instintivamente, sem pensar dizemos:

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– O que? Porque?!

E depois de ter feito duas perguntas ao mesmo tempo percebemos que só a segunda é importante. É para aqui onde recuamos e dizemos “poderia tê-lo ajudado”. E como era de se esperar ele irá escolher responder a pergunta mais fácil, e aí está tudo perdido.

– Vou me suicidar, eu não aguento mais!

Você nota que ainda não está tudo perdido, mas não sabe o que fazer, e mais uma vez fala sem pensar…

– Não meu filho, não faça isso!

Ele ficou desapontado. Ele achou que talvez a mãe o pudesse fazer mudar de ideia. Mas ela parece estar mais confusa que ele.

É aí onde você tenta mover mundos e fundos para convencer a pessoa a não cometer essa desgraça consigo mesma, mas não consegue. A pessoa não está a procura motivos para não se matar, ela está em busca de motivos para viver. Você vai insistir até que ela desligue o telefone na sua cara e você entra em pânico…

Ivan não foi mais visto depois daquela ligação. A mãe abandonou o trono em busca do filho dissidente. Os súbditos foram accionados para localiza-lo. Não estava no serviço, não estava com o Marcos e nem estava às trepadas com a Sofia. Ivan estava abraçado ao chão do passeio de um prédio, algures na cidade de Maputo.

Cinco minutos antes de ele ser encontrado estatelado no chão, ele havia subido até ao ponto mais alto do prédio e lançara todos os sonhos para aquele passeio. Ele atirou-se na terra na expectativa de libertar-se daquele peso que só ele carregava. Ele suicidou-se e deixou os problemas para que realmente os merecia. Ele “resolveu” os problemas dele e deixou o resto se ajeitar sozinho.

Uma parte do resto era seu melhor amigo que, sofrera bastante ao receber a notícia da morte do seu melhor amigo. Sua garganta ficara tão seca que ele teve vontade de beber toda a água do mar. Aquela notícia era como uma martelada nas bolas, não tinha concerto. Não havia mais horizonte.

Marcos pegou no carro e foi até à marginal onde pretendia matar sua sede. Marcos pensou pela última vez no seu afilhado e lançou o carro às barreiras da costa e morreu. Ele lançou-se no mar na expectativa de acabar com aquela sensação que só ele sabia de onde vinha. Ele não quis ficar com os problemas que o amigo deixara só para ele.

Sofia estava transtornada, ninguém conseguia fazer ela dizer uma única palavra, ela estava em choque. O pai do seu filho estava morto.

A dona Verónica esperou pacientemente que as cerimónias fúnebres fossem realizadas nas duas famílias e só depois foi falar com a Sofia, ela era a outra parte do resto. Ela tinha as respostas. Ele tinha que falar. E ela falou.

Na noite anterior a aquelas desgraças, o Ivan descobriu que seu filho na verdade foi um empréstimo de seu amigo Marcos. Aqueles dois desgraçados lhe traiam bem debaixo do nariz. É possível que talvez tenham usado sua cama para fazer aquele filho. Ivan não conseguiu suportar o facto de que seu melhor amigo engravidara a mulher da sua vida, a mãe dos seus filhos. Como ele viveria isso?

Marcos não poderia suportar a ideia de que seu amigo havia tirado a própria vida porque ele era uma amigo falso. Como ele viveria com isso?

Sofia Sofia Sofia… Como viverás com isso?

O bebé? O bebé é inocente…

Eu sei que muitos não vão resistir à vontade de copiar este texto e espalha-lo por email sem deixar os devidos créditos. Façam o que bem entenderem, eu não me importo…

5 COMENTÁRIOS

  1. É a primeira vez que uma tragédia é tão bem retratada. Entrar na mente dos personagens e tirar para fora o mais cru sentimento, de forma envolvente é coisa de poucos. e o ponto de vista do autor faz-nos querer rir e reflectir ao mesmo tempo. é uma obra prima. Já subscrevi o meu email. que venha mais de moçambique

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